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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Copa do Mundo FIFA 2014 - AGECOPA


Olha, foi difícil escolher um dentre tantos temas polêmicos para serem comentados. De qualquer forma, todos terão sua vez de aparecer, então acabei sorteando um dos temas mais comentados: Copa do Mundo FIFA 2014.

Chega ser difícil acreditar o quanto uma Copa do Mundo pode influenciar nossas vidas. Tanto positivamente, quanto negativamente. Creio que posso arriscar mais do segundo, apesar de muitos dizerem (ou desejarem) o contrário. Não sou negativo ou pessimista, mas digo isso olhando por uma ótica realista.

Quem nunca ouviu "O Brasil é o país do futebol"? Ou "Esta será a melhor copa de todos os tempos"? Também "Faltam menos de 1000 dias"... As frases (feitas) de "apoio" estão por toda parte. Mas o que o povo realmente vai ganhar com isso? Ou melhor, o que o povo vai realmente PAGAR por isso? Afinal, muito ingênuo é aquele crente na idéia de que todo será custeado pelo comitê internacional da FIFA e nada sairá (e já está saindo) de nossos bolsos, os contribuintes.

Em poucas palavras, trata-se da política do "Pão e circo"*. E este é o "circo" proporcionado a nós, pelos governantes.

Afinal, quando se pode gastar R$ 700 milhões (isso mesmo, R$ 700.000.000,00) em média (entre R$ 596 milhões em Cuiabá e R$ 820 milhões em São Paulo) na construção de um estádio de futebol, por que gastar "míseros" R$ 50 milhões em um hospital? Isso mesmo! O valor de um estádio (superfaturado ou não) paga o valor de 14 (quatorze) HOSPITAIS EQUIPADOS (FONTE)! Note que neste exemplo, os valores citados são de 2009. Contando com uma valorização imobiliária média de 30% ao ano, de R$ 50 milhões, chegaríamos a R$ 84 milhões. Este valor ainda permitiria a construção de 8 hospitais, mesmo sem corrigir o valor da construção do estádio até o fim da obra, que passaria de R$ 1 bilhão. É fácil encontrar na internet outros exemplos destes valores, tanto em relação aos estádios, quanto aos hospitais.

Não podemos esquecer também, da grande herança que a copa irá produzir. Parte dela trata-se de um verdadeiro "presente de grego". Em Cuiabá/MT, por exemplo, não existem clubes capazes de assumir a administração (manutenção) do estádio que está sendo construído. Logo, este custo recairá (provavelmente) para a administração pública. Ou o estádio ficará tão largado e abandonado como seu antecessor.

Sou carioca, mas hoje resido em Cuiabá/MT. Aqui a saúde pública é precária. Até mesmo o atendimento particular é sofrível, pois não tem condições de atender a demanda (salvo alguns hospitais de alto nível). Mesmo se você possuir um plano de saúde considerado bom (UNIMED, por exemplo), ainda passará por filas intermináveis de atendimento, inclusive no pronto-atendimento de emergência. Bem, saúde será título para outro tópico. Voltemos ao circo...

É costume de qualquer governo criar (em excesso) secretarias. Seja para a segurança, saúde, transporte, obra do parque, gestão de transição da gestão da parafuseta, etc. E para as obras de viabilidade da copa, muitos estados por incrível que pareça, NÃO o fizeram. Simplesmente designaram as obras de acordo com as secretarias já existentes. Eu diria louvável se não fosse o mínimo esperado. Mas em Cuiabá/MT - uma das cidades sede, o governo do estado não o fez (de primeira). Seguindo a moda do governo federal, criou uma "agência", mas por interesses próprios, claro. Esta agência foi denominada AGECOPA.

A AGECOPA - Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo do Pantanal - FIFA 2014 (SITE) é uma entidade integrante da Administração Pública Indireta. Foi criada no final de 2009 (setembro) e "submetida ao regime autárquico especial, dotada de autonomia administrativa, financeira e funcional, com prazo de duração determinado, vinculada ao Gabinete do Governador, com sede na Capital do Estado de Mato Grosso. A natureza de autarquia especial é caracterizada por independência administrativa, autonomia financeira, ausência de subordinação hierárquica e mandato fixo de seus dirigentes" (FONTE).

Esta agência começa errada já no site oficial, recheado de anúncios. Uma entidade que em tese deveria ser pública, com dezenas de anúncios privados e sabe-se lá para onde vai (foi) o resultado desta receita. Como eu disse acima, ela foi criada em 2009 e 2 anos e aproximadamente R$ 10 milhões EM SALÁRIOS depois, nada foi feito. Pois é. A AGECOPA custou aos cofres públicos quase R$ 5 milhões de reais por ano. Possua os maiores salários do governo e hoje, na sua extinção, NADA fez além do mais óbvio. Iniciar a construção do estádio.

Acontece que seu propósito de viabilidade era muito maior. Desde a área de transporte (aeroporto, nova solução para transporte público e avenidas - projeto de mobilidade, etc), até a saúde, passando pela segurança e tudo o mais que fosse necessário para a realização de um evento saudável para todos. Esta agência parou no tempo com discuções sem rumo sobre "BRT" (projeto de R$ 600 milhões) ou "VLT" (projeto de R$ 1,2 bilhões), quem manda mais em brigas de egos (entre o presidente da agência, Éder Moraes e um dos principais diretores Carlos Brito - FONTE). A agência é um verdadeiro “cabide de empregos” e, lá estão “apadrinhados” do Senador Blairo Maggi, que fundou a AGECOPA para deixar acomodados pessoas que não conseguem sobreviver sem “emprego público" (FONTE).

Depois de tanto tempo e milhões gastos, no início de outubro o governo criou uma secretaria: a SECOPA - Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (FONTE), pondo fim a uma novela, mas iniciando outra. Coincidentemente, o secretário extra-ordinário nomeado pelo governador, ou presidente da nova SECOPA, é o mesmo da AGECOPA, ou seja, Éder Moraes. O mesmo que hoje está sendo convocado pela Assembléia Legislativa - convocação de autoria de Zeca Viana (PDT) - para prestar contas sobre os gastos da AGECOPA (FONTE 1, FONTE 2 e FONTE 3) e quanto à execução das obras que foram realizadas ou que se encontram em andamento até o momento. E não foi o único. Outros diretores continuam sendo "apadrinhados" pelo governo (FONTE), mesmo depois de comprovada incapacidade de gestão, depois do fiasco chamado AGECOPA.

Sei que é muita polêmica para poucas linhas e até corro o risco de ser superficial sobre o assunto. Mas cada parágrafo deste tópico pode - e irá - se tornar um novo tópico, por si só, de tantos acontecimentos e material disponível.


Então este post fecharei com uma citação mais do que ideal:

"Panis et circenses (Pão e circo)"
Nero Claudius Cæsar Augustus Germanicus (37 - 68)

NOTA: Na prática, seu significado é "Dê pão e circo (diversão) ao povo e poderemos fazer qualquer coisa sem que percebam". Esta citação é atribuída a romanos antigos de épocas diferentes, como Vespasiano (9 - 79) e Justiniano (527 - 561), e se trata na realidade do nome de uma política adotada na época, que previa o provimento de comida e diversão ao povo, com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes. É possível que a frase tenha sua origem nas Sátiras de Juvenal, mais precisamente na décima (Sátira X, 77–81 - FONTE).

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